Entrevista | Ulisses R. Brandão, organizador de “Escritofrenias”
Conheça melhor o responsável por reunir dezessete escritores nacionais e internacionais em uma antologia que combina ficção e psiquiatria
Dezessete autores (nacionais e internacionais), dezessete diagnósticos mentais: essa é a premissa da antologia de contos Escritofrenias, organizada por Ulisses Rezende Brandão, na qual o médico psiquiátrico e professor universitário atribuiu um distúrbio para que cada participante pudesse criar uma narrativa do zero – com foco na verossimilhança e, de preferência, ousando na forma. Rafael Gallo, Antonio Geraldo Figueiredo Ferreira e o norte-americano George Salis são alguns dos gigantes que compõem essa iniciativa tão alinhada ao espírito do tempo.
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Entrevista com Ulisses R. Brandão
Agora, para que o público conheça melhor o responsável por organizar a antologia Escritofrenias, o escritor e editor João Lucas Dusi – idealizador da Madame Psicose – conduziu um bate-papo com Brandão para o jornal de literatura Cândido, editado pela Biblioteca Pública do Paraná. É possível prestigiar a conversa aqui, na íntegra, e ter um gostinho de como foi lendo os dois tópicos abaixo, extraídos da entrevista “Não há vagas para leitores sensíveis”, o que já diz bastante sobre o projeto.

Gênese da “ficção psiquiátrica”
Tenho duas obsessões: literatura e psiquiatria, ou melhor, saúde mental. Antes de ser psiquiatra, precisei me formar médico. Eu tinha uns 12 anos quando descobri a profissão de psiquiatra e simplesmente cumpri o pré-requisito da medicina para atingir meu objetivo.
Tornei-me leitor de ficção durante a faculdade. Na infância e adolescência, não lia. Sempre achei bonito ver pessoas lendo, mas, no início, sentia mais vontade de ter livros do que de lê-los. Essa é uma memória forte da minha pré-adolescência. Na graduação, no entanto, a literatura se tornou uma companhia essencial.
As narrativas que falavam sobre a condição humana, sobre sofrimentos que eu desconhecia, com vozes estranhas à minha própria experiência, serviam como ponte: um modo de matar a vontade de ser psiquiatra enquanto ainda era estudante. Foi uma preparação antes de pisar na psiquiatria, de fato, durante a residência médica.
Mais tarde, como psiquiatra, senti falta de uma ligação específica entre as duas áreas. Eu era leitor e psiquiatra, mas não sabia exatamente como conciliar essas abordagens. Tentei produzir alguns textos, buscando unir meu olhar sobre os transtornos mentais com a literatura, no que surgiu a ideia da antologia Escritofrenias. Reunir vários autores, cada um com sua própria dicção e obsessão, abordando diferentes condições psíquicas, me pareceu a forma ideal de criar uma “ficção psiquiátrica”.
A polifonia desse conjunto reflete a natureza da clínica psiquiátrica: são pessoas diferentes, cada uma contando suas dores do seu jeito. Foi o melhor modo de contemplar minhas duas paixões em um só projeto.
O título: Escritofrenias
Desde o início, queria um neologismo como título. Tenho uma verdadeira obsessão por esse fenômeno linguístico: mantenho documentos, no celular e no computador, com novas palavras que me ocorrem. Quem estiver lendo esta entrevista não poderá ver o cenário em que estou agora, mas há um pequeno James Joyce atrás de mim, já na fase de Finnegans Wake (1939).
Mesmo decidido a respeito do nome, o processo de escolha demorou. Ao me surgir, Escritofrenias pareceu perfeito devido à homofonia com um diagnóstico amplamente conhecido, a esquizofrenia, ao mesmo tempo em que se combina com “escrita”. Modéstia à parte, é um ótimo neologismo para sintetizar a proposta do livro.