Desconfia da raça humana? Leia “Amor”, de André Sant’Anna
Reedição da Madame Psicose traz ilustrações coloridas em páginas duplas; é o primeiro título da editora independente de Curitiba
Depois de passar pela Companhia das Letras e Todavia, um dos maiores nomes da ficção brasileira inaugura o catálogo da Madame Psicose. Em Amor, lançado de forma independente em 1998 e reeditado agora com bizarras ilustrações coloridas em páginas duplas, André Sant’Anna leva a ficção às últimas consequências por meio de um narrador que avalia a condição humana pela chave da violência. Para ele, fezes e sangue sintetizam o homem. Ao adquirir um exemplar, com frete grátis, você não só contribui com a circulação de uma obra incrível, para estômagos fortes, como ajuda o pontapé inicial de uma editora comprometida com a literatura sem rabo preso.
Para o primeiro editor do livro, Sebastião Nunes, Amor está no patamar de Graça infinita, de David Foster Wallace, e 2666, de Roberto Bolaño, que parecem sintetizar um profundo vazio existencial da virada do milênio. João Lucas Dusi, editor atual, ainda compara o narrador de Sant’Anna com a dicção do austríaco Thomas Bernhard, que nunca teve nada bom a dizer sobre a raça humana. Se você também é um desconfiado, isto é, não consegue enxergar muita coisa boa no homem, leia Amor – irônico desde o título, brutal na execução.