A ousada prosa poética de Calí Boreaz
“a tela finalmente escura” é o novo livro da autora portuguesa; o lançamento é da Kafka Edições
A Kafka Edições apresenta seu primeiro lançamento internacional: a tela finalmente escura, da portuguesa Calí Boreaz, radicada no Brasil desde 2010. A obra, que funciona como uma espécie de quebra-cabeças poético e vem chamando a atenção de grandes nomes do mercado editorial desde seu anúncio, transita pelas tensões entre o dito e o não dito e dialoga com artes visuais. De acordo com a professora e crítica literária Cleide Simões, autora do posfácio, trata-se de “um livro para se ler com o corpo inteiro”.
Trecho | a tela finalmente escura
vou pelos vãos das veias com um nome fechado nos pulsos e um silêncio espalhado nos muros. os muros, cheios de letreiros. os pulsos, cheios de sinais de trânsito. o passo que se pede no vazio estrondoso, pois não, eu o dou. mas então, outro. sucessivamente me avisto no espelho do vazio seguinte sem saber se já estou nele ou pra lá caminho ou se o caminhar está do avesso. fractalidade fatal com que me fito, ou finto. no espelho mais distante, porém, uma de mim destoa, despassa. voo pelas vãs vielas com um céu de bolso e um estrondo de amor. então, em vez do silêncio envolto de palavras — a palavra revolta de silêncio. em vez do teu nome fechado nos pulsos — a pulsação do inominável.
Calí Boreaz
Nasceu em Portugal, onde estudou Direito e Flamenco; viveu em Bucareste, cursando língua e literatura romenas e tradução literária; e, desde 2010, mergulha nos universos editorial e teatral no Rio de Janeiro, onde mora. Editora, tradutora de literatura romena, autora de três livros de poesia — outono azul a sul (2018), tesserato (2020) e a tela finalmente escura (compre agora) —, publicada em antologias e revistas do Brasil, Portugal, Galiza, Cabo-Verde e México, bem como em exposições de Portugal e da Índia, Calí interpreta e funde sua poesia em múltiplas criações autorais, como espetáculos de jam poetry sessions, saraus, podcasts e filmepoemas.